Sunday, March 11, 2007

mas estreite nossa cama.

É o pigarro, o escarro. Está-se puro novamente, e então mais um beijo. É podre o cheiro vindo da janela, mas estreite nossa cama. Com o "adeus" tão em voga, sorrio com sua entrada na sala, tão bem vinda - prometa mais uma noite, e que não seja a última até desistirmos.
Escolho assistir à cidade de um cinza fosco. Dá-me o contraste para o colorido de meu quarto. Cansamos e fazemos cansar, as olheiras estão da profundidade de minha vontade. Ainda não daqui me jogarei, mesmo que, ao fazê-lo, desse às calçadas as cores de que precisam. Não. O incolor é impenetrável de tal forma que mais proveitoso é o egoísmo de manter minha resistência particular entre quatro paredes.
E que haja música. E pernas, quatro ou mais. E cores, uma profusão delas. Nunca repetidos, os movimentos; olhos gritando sentir, bocas que calam a si próprias. Pudor somente de não ser feliz. E, em cada centímetro do corpo que descubro e deixo ser descoberto, a certeza de nada a não ser o prazer de não fazer parte do mundo a se corroer do lado de fora.

Monday, September 04, 2006

dado à luz.

Mãos na cabeça, está perdoado. Um alento, a permissão de continuar. Seus dedos, não meus, enquanto meu cabelo parecer leve, flutuando, como no ar.
O renascer, diário como despertar. Antes de retornar para a cama, tantas vezes posso me dar motivos, motivos para recomeçar. Renovar. Necessidade, nunca opção, para quem não deseja ser o mesmo afresco nas mesmas paredes da mesma casa. E sou dado à luz, diariamente, não quando acordo, mas quando recordo do por quê de ter sorrido quando o fiz.

Vingança, pelas vezes que fui mantido, estático, aos seus olhos. Eu, olhando para frente, onde desejaria estar, sentindo-me em retrocesso a cada segundo imóvel. Injusto, sempre. Segurarei também eu sua mão em muitos passos falsos.
Rajada de argumentos. Razão, razão. Não mais do que a explicação conveniente para o que constrange no interior e não pode ser revelado.

A leveza de nossas limitações, por onde flutuamos de maneira insuportavelmente cíclica, tangenciando o chão, o perigo implícito em possíveis falhas. Não, não mais poeira e gravidade. Mais alto.

Mais alto, por favor.

Tuesday, August 29, 2006

mínimas particularidades convencionais.

Sutilmente. Dessa forma, nascem os pontos realmente importantes a manchar a linha da nossa vida, os que recordaremos, assistiremos em nossa retrospectiva final. Tanto tentamos impor dinamicidade aos nossos dias, tão violentamente tentamos fazê-los especiais, de maneiras quaisquer, que não notamos as infinitas possibilidades singulares que nos rodeiam, nos espreitam. São folhas de outono, caindo lentamente, quando estamos à sombra de sua árvore. Basta o esforço de estender a mão. Não o fazemos, muitas vezes, pelo conformista conforto que a ausência de luz traz. Dormentes, dormimos, adentrando no real sonho ruim da rotina. Apenas não feche os olhos, por favor.
Um segundo. É o tempo que basta para que nos seja removido o véu, inesperadamente. Constante véu, limitando-nos a ver pessoas como uma massa cinzenta e uniforme, com mínimas particularidades convencionais. De repente, no espaço de um curto momento, em sua frente, a mais colorida das pessoas. Não é preciso muito mais do que um sorriso, um gesto inesperado, uma expressão ingênua, para que as peças se encaixem. Peças, sim, do quebra-cabeças de apenas duas, que somos. Apenas um segundo.
Esforçar-se muito para viver os momentos especiais que serão recordados é vestir sua vida de qualquer tipo de plástico reluzente. Bonito, sim, mas somente para seus olhos. Abra os olhos, preste atenção, estenda as mãos. E queira. Sem perceber, recordar será viver, já.

Saturday, August 12, 2006

bolas de sabão.

Não toque em nada do que falei. São bolas de sabão. Lindas.
É como se brincassem de tiro ao alvo, e há um x em minha testa.
Quando não em mim, em algo que faz de mim alguém melhor.
Mãos tão grandes. E um dedo apontando para meus passos. Sim, eu andei por aqui. Não nego, mas esqueça.
E que venha o silêncio, tão sólido quanto pode ser. Que diminua o espaço entre nós, quando em palavras se vê um vazio embalado. Os passos voltam, e gotas sobem para os olhos de onde vieram. Lábios colam. Ar, hoje, é algo dispensável. Respira-se algo mais. O momento em que dedos tornam-se mãos dadas. Um bem estar que não deveria estar aqui, mas que fique mais. Cores, da forma na qual foram feitas para serem vistas. Há vida, sim, de novo e de novo. Grave tudo isso e me mostre quando meus olhos desviarem por um momento que seja.

Sunday, August 06, 2006

e feliz assim.

É pesado, e histérico como copos contra paredes. Não para quem vê, mas para quem sente. E sente-se tanto. Está no sorriso que esitou em desenhar-se, no consentimento que veio atrasado. Sempre mudo, arranhando a garganta, na esperança da vinda do momento em que poderá se fazer mostrar. Reside em você, e está subindo pelas paredes.
De qualquer forma, os sorrisos virão. A cabeça concordará com tudo e todos, e a reação será a melhor possível. Será um quadro de cores suaves, nada a se notar além da suavidade do semblante. O conteúdo fervendo, e a garrafa tão fria. Tantas garrafas. Nada se percebe à distância de um toque.
Mas as rachaduras vêm, sim.
Ninguém pode saber. Você espera que ninguém note. A primeira gota vem. Pouco se percebe. Ajoelha-se e pede que ninguém, ninguém, ninguém veja o que há dentro, tão somente dentro. Somente para descobrir estar vazio.
Alívio.
Vazio, sim, e feliz assim.

Thursday, August 03, 2006

Mãos feridas seguram o que um dia foram suas pedras.

Se há pedras nas mãos, não é preciso aceitar. Jogue-as do alto, e talvez, sinta-se grande. Todos abaixo parecem tão pequenos, quando há pedras nas mãos. E é certo que, um dia, você as terá. Sorria enquanto as tiver, e use-as por mostrar-se. Todas elas.
Mas, em um momento que virá mais rápido do que o esperado, em suas mãos, somente seus dedos.
Então, corra.

Mãos feridas seguram o que um dia foram suas pedras.

Tuesday, August 01, 2006

palavras de amor não envelhecem.

Palavras de amor não envelhecem. Cuidado ao libertá-las, viverão mais do que o que um dia representaram. Serão cobradas, e darão testemunho. Não há motivo pelo qual se deva escrevê-las se não há certeza ao fazê-lo. Serão mentiras eternamente estampadas em seu rosto.

Mas se há, abra essa gaiola que comporta tudo o que deve ser dito, elas saberão para onde voar. As guarde em seu sorriso, onde descansarão. Faça dos seus olhos caminho por onde irão ao destino a elas resignado.

E tão redundante é falar de amor. Mas em nós corre seu sangue e por palavras respira, havendo, nelas, sinceridade. Uma interjeição de amor guarda em si a rima e o poema. Tão completo quanto pode ser.

Um sentimento cria rugas e seca.

Palavras de amor não envelhecem. Se não guiadas por um motivo sincero, eternamente estarão em sua garganta, e dia mais, dia menos, você sufocará.